sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Passeio





Vesti minha roupa de ruínas
era o que eu sentia para me cobrir
existia o frio do calor desumano
era preciso se proteger
casacos na mente

Pisei nos pregos cerebrais
me diziam que eram remédios
todos bons esses da psiquiatria
vestida de amiga

Coloquei minha bota de desabafo
sai da toca bengala de velho
segui na terra do lado duro
era o meu bairro
morava na rua triste dezoito
quadra deplorável casa zero

Ventanias de nãos me batiam
criei uma coragem do rir de dor
parava um pouco pra ver o mundo
tão longe indo na chuva ácida da cidade
 fiquei observando na agonia distinta
o vazio batendo em mim
lidando com algo bonito desmanchando

Segui pelos cinzas do chão
passos dados no cimento cidade
lendo os lábios de frio tremendo
ah meus tempos ruins incrustados
 como quem faz carinho toda uma vida
que sobrar no cão atropelado

Peguei a avenida burocracia
direção ao centro do problema
buscar migalhas para os pombos sujos
meus braços e pernas
mente e coração

Olhava para fora
observa o dentro
o vazio estava me comendo

Meu olho seco e duro
precisava reabastecer um líquido
o veneno social lubificante alcoolico
comprei uma garrafa no mercado de vazios
um dinheiro das dívidas não pagas
contas passadas

Ouvia apenas o piano de gotas lágrimas
uma música invisível aos grossos
 ensaiei um sorriso no caos

Oh o mundo interno
lutando para não cair
mas sem chance de jogar a partida
perde a vida na esquina

Sentei na sarjeta da montanha
era o alto patifaria da cidade
respirei o último pouco ar puro
soltei uma gargalhada 
rindo pulei docemente
 desse alto do meu desespero





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