quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Fim de Carreira






Oh o ar do fim
 diz de ti a falta de sim
sem espera vêm o não

Sol quente dos raios ultra violetas
violentos e invasores
abrigam sua manhã de desemprego

Caminha pela rua 
a sede da boca empurra perna
suor frio de verão
enfiado pelo calor desumano
o bolso zero de dinheiro
o corpo já velho
passeia pelo centro de uma ressaca
colorida de cidade cinza

É um passeio atômico
lembrança dos metais pesados
cigarro de fumaça do caminhão na cara
 tudo junto no banco da praça 
parque de agonias gratuitas

Ainda são oito horas da manhã
já se passou anos e isso é meio dia
calor que mexe com a cabeça

O delírio de café da manhã
sem docilidade mas com jornal 
para olhos cegos e castanhos
lembra que se esquece
mas sente lágrimas
de uma casa no subúrbio
sensação de mundo

Bebe um senhor gole de cachaça
come uns cigarros filados 
morre um pouco de pulmão
fígado e outros fins
coração numa fria

Batida de fim do mundo pessoal
segue pelas ruas
ponteiro de relógio quebrado

Some pelas avenidas
em alguns anos nem passos
a figura foi sumindo
o anonimato lhe casou
e a terra o comeu


domingo, 23 de dezembro de 2012

Nova Amazônia




A cidade invade a floresta
toma seu espaço 
um trator de lixo
passa no coração infartando

Pássaros caem na fome sem sombra
sem lugar para ninhos
desertos quentes comem o verde

Humanos para todos os lados
sucateando tudo
distribuindo o luto

Indios de plástico vendidos
como lembrança do passado
fazem a estética da loja de horror

Tudo foi trocado pelo labirinto
vão se perdendo ali oportunidades
para o sempre sem saída do pesadelo

Faixas e placas fixas
indicam os limites do abismo
que beiram entre novos precipícios

Existem hospitais para o cãncer
sem cura oferecida ao signo humano

Tristezas em bares
restaurantes de químicos
supermercados da estupidez humana
organizados funcionando 24 horas

Floresta devastada
Amazônia que maior parte
se riscou do mapa
anexa-se apenas o vazio
uma cidade humana
cimento radioativo infeliz

Tudo segue rompendo
máquina que virou o sim
para a vida que se tornou o não

Ouve se o mecanismo tocar
uma música fúnebre
 sem pausa na letra
uma palavra repetida
 junto ao vomito mecânico
bip bip
extinção
alarme
extinção
sirene
extinção



sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Caverna




Cada passo na corda bamba
centímetro por pedacinho
a torcida para a queda
grita pela  miséria
 
Cada hora dos dias
com o pedaço de coração
arrancado e de resto amargo
vazio de algo meigo externo
vai assim indo

Quietinho nas alturas
abismo é perigo
de ir daqui até o ali

Mexo devagar os pés
pelas ruas vazias
madrugada cheia de solidão
suspiro para não enlouquecer

Sem família
vivo numa ilha urbana
cercada de indiferença
 por todos os lados

Amigos desaparecidos
não há namoro
amor
 nem vagas de pensão
 emprego ou estudo

As estradas são as linhas
 vias de corda bamba
 sujas e frias
molhadas de lágrimas

Quase tudo vazio sentido
dentro do batimento cardíaco
 só uma vontade de ir embora
dessa rua chamada vida

Sigo
passo no piso
frio e duro

Dentro do Eu existe
coração de pedra acimentada
suburbano pedaço de carne

Nele há uma caverna
com um pequeno fogo
onde mendigos se aquecem
sendo uns dos outros
todos queridos