domingo, 29 de agosto de 2010

Fim de carreira



Mal estar fatal
passando mal
indo para um hospital
açougue público do Estado


Olha para um lado
e olha para o outro
a miséria está no olho
a ver a falta de viver


Num corredor observa a vida
virar apenas caminho até a morte
sem exames nem remédios
com poucos médicos


A situação caótica é um cartão de visita
feito da uma mistura de merda com cadáver
o desespero diz bom dia
e o pânico uma boa noite


Tudo está no devido fora do lugar
contaminado desfecho
dentro de quatro paredes
uma prisão desconfortável
quarto de hospital do animal
pobre passando pela via
caminho público letal

Na madrugada de agora em diante
a angústia sufocante deita em leito
gemendo suas péssimas tragédias
Plantando agonias cinzas pelo caminho dos sonhos
Colhendo a doença incurável do horror

Olhando para dentro e as coisas desfocadas
da loucura agora a sua primeira dama
Os pensamentos afundam na carne ao lado da dor
de cada poro de cada tato possível

Vai perdendo dessa coisa de estar vivo
numa balada de ir morrendo
muito sofrendo e gemendo
sua doença come até o seu nome
só resta o prontuário
checado e garantido como terminal


O hospital é um cemitério
não tão gratuito
a vida que não é bela jaz ali dentro


Centro da cidade da doença total
morrer é uma maravilha
viver é um pesadelo acordado
garantido pelos chefes de Estado
homens de negócios e afins


Vai caindo
sem escolhas
a sensação de piora
e a morte
lhe beija a boca
num corredor solitário
enfim







MonoTeLha

Esgotado no Rio





Afogado num rio de janeiro qualquer
um desses em direção ao mar de destroços
de ossos e lixos do ofício

Pode ser numa praia
ou na entrada de uma baía
vai se engolindo esgoto em fevereiro

Em ruas entupidas
águas irritantes de março
entram na boca sem pedir licença
fechando a goela de poluição no verão
abrem um abril despedaçado
trazendo a sujeira no trabalho de maio

Sujeira enjoativa no cheiro de junho
ensopado no entulho de julho
num profundo desgosto
em pleno mês de agosto

Cidade sitiada e alagada
caos de setembro num vazamento atômico
sem nome sem saber
o mar vêm entrar

Olhos turvos visão arruinada
dói o outubro em sinal de luto
Novo horror de novembro
de certo morto em dezembro

Foi um esgoto que passou em minha vida







MonoTeLha

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Camelô



O policial vem vindo
o moço da barraca
tem de ir fugindo
se ficar apanha
e não ganha o pão
para alimentar crianças
vazias de barriga

Homem pobre sozinho
anda vai
a polícia vem vindo
o perigo sinistro
o Estado agindo



MonoTeLha

Senhora solidão



Solidão
fiel companheira
inseparável amiga

Está dentro da garrafa
da amarga bebida

Fica ali no vazio das esquinas

Dentro das casas
A solidão tem asas
está no avião
há quem viu num navio
indo a um vazio qualquer
de carro e a pé

Solidão no coração
de cada um na condução
solitaria das vias

A solidão é muda
nem escuta
não come mas é a fome
misturada numa sede
de sentir e pensar

Ela sabe andar
acompanha a andança
as vezes do bebê
até velho morrer

Solidão reflexo de desunião
imagem depressiva
vista ao sol
vista ao luar
não importa sua roupa
muito menos o lugar

Solidão
uma dama invisível
e não uma ilusão
dançando seus passos
para todos os lados

Um abismo
entre nós
solidão!




sábado, 14 de agosto de 2010

B R




A ordem é progresso
até tudo se acabar
ir e começar
destruir e matar

Aniquilar nativos
pessoas de cocares
árvores e aves

Escravizando os de pele escura
tragos de longe para a tortura

Ordens são ordens
seguir para progredir
Tudo para uns
nada para outros

Muitos brancos encardidos
só meros pobres desiludidos
Pretos negros em desespero
racismo e genocídio
Nativos semi-extintos

A lei é amar
a miséria desse lugar

O progresso a largos passos
pisa em cadáveres históricos estuprados
Os danos do passado
num reflexo de espelho
mostrando tiranos do presente
eis as famílias ricas
suas polícias
seus governos
sua política
suas mentiras
criando os carrascos do futuro

Pisam forte sendo a própria morte
progressivo sofrimento
Terra desgraçada devastada
a maior merda da américa latrina
entre tantos outros Estados
governos lixos mundiais

É mais um genocída
nome de cor e tinta
chamado Brasil



MonoTeLha

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Ruas



Ruas
sujas e imundas
Ruas
lotadas e vazias
de noite
de dia

Apenas ruas
casas a céu aberto
labirinto certo
para se perder


Ruas
suas vias nuas de crueldades
seus cantos
suas frestas
escondem a humanidade

Ruas
caminhando por elas
nelas o coração bate
o lixo da cidade

Ruas
becos e estradas
mas sempre ruas
velhas e novas abertas
feridas na vida moderna

Ruas
do passado
do presente
indo sem direção
sem futuro
Cercadas por muros e propriedades
cheias de pessoas sem lares

Ruas
onde era campo
agora endereço do asfalto

Ruas
do nascer
até o morrer



MonoTeLha

Contas



Os ricos só somam para si
e nada de dividir
apenas multiplicam suas riquezas
subtraindo dos pobres
as suas forças
as suas vitalidades
fazendo escravos de todas as idades

Destruindo multidões
para minorias lucrarem

Latifúndios somando pobrezas
subtraindo vidas
Meios urbanos e seus donos
multiplicando danos e misérias

Lucrando destruindo e poluindo
desaba o meio ambiente
torna a dor e sofrimento existente
sempre no cotidiano presente

Assim subtraindo a existência
as contas seguem
muitas vidas se perdem
multiplicando a extinção
como produto final


MonoTeLha

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Notícias



O desemprego abaixou
por isso vemos a fila
miserável na lida
maior ainda na esquina


A violência diminuiu
nota-se os mortos
espalhados pelo chão
ou pessoas sem direitos
esgamados assaláriados
numa agressão garantida


O governo melhorou
é visível o ódio
contra todos os candidatos
e governantes bastardos


A educação avançou
o número de analfabetos
aumenta tanto quanto
analfabetos funcionais


A saúde vigorou
os doentes pioram
nas construções de carências
dos hospitais públicos


A mídia se supera
com excelentes dopadores
na programação que aliena
deturpa e entope a mente com merda
problemas viram dinheiro
idiotizado público certeiro
consumo da cena de cinema


A ecologia se espalha
vemos a extinção que estraçalha
destruir novas espécies
cada vez mais perta
criando aos humanos
a morte total certa



MonoTeLha

domingo, 8 de agosto de 2010

Despertences Despertados




Nem um prego na parede para ser pendurado
o desemprego é garantido
ser subnutrido
sem lazer
sem ter o que fazer
Não é possível
Colher de sal cheia
salário nem o mínimo
nem o trabalho informal na rua
a viatura vêm e leva tudo


Morar no morro não se pode
o preço do aluguel que sobe
favela em especulação imobiliária
postos do governo
unidade de polícia para impostos
nova violência

Nada de ter alguma coisa no banco
nem no da praça é possível
a polícia é anti-pobres
pega os pertences
joga fora para longe



Água não pode ser limpa
só dão da torneira
pois não pode chegar
em bebedouros
os donos do ouro não deixam

Restos de lanches
sem chances de matar a fome

Gratuita é porrada da polícia

a ameaça da milícia

as balas sainda da boca
indo pro oco das cabeças


Uma banho numa vala

pra fugir da chacina


Foi trocado o nome próprio
pelo título de indigente
gente que não presta
a miséria é o que resta


A tristeza tem bastante
não há um só instante
sem solidão companheira
coração na geladeira

O choro ali existe sozinho

sem ninguém para enxugar
calado quieto
num canto sem pessoas
a olhar

O que reserva é uma cova rasa
a tristeza que arrasa
o corpo que se arrasta
a dor pra lá
sem vontade de voltar
nem de ficar


MonoTeLha