sexta-feira, 30 de março de 2012

Pedaço de Carne









Todos convidados
ao enorme churrasco

Será assado o sentimento 
vai direto para a brasa

Há pedaços de alegria no palito

Coxas de prazer
e peitos de afetividade

Tudo mortinho
pronto para ingerir

Pezinhos de união
com pescoço altruísta

Bifes de amizade
todos cortadinhos 

Asas de autonomia
bem esmagadas
com tempero ardido

Prato principal na brasa
muitos quilos de amor 

A entrada são dois raciocínios
frios e calculistas antibióticos

Venha logo
entrada concorrida
acontecimento garantido

Mesmo em caso de chuva
tristeza e solidão.






terça-feira, 13 de março de 2012

Meteorologia




A previsão do tempo 
não errou
é chuva
completamente ácida na psique

Alagamentos vistos no sentir
todo o risco da razão ir para o ralo
profundamente indo em desamparo

O corpo fica encharcado de vazio
pois o guarda chuva está quebrado

O sapato que furou
o casaco rasgado
o frio em si

O celular fora de área 
objetos inúteis
o trovão destrói tudo

A água entra pelas entranhas
danificando o corpo de robô
obediente ao comando

A cidade fica mais entre labirintos  
debaixo de água sem escafrandro

Expressões rudes no norte
cansaço no centro oeste

Essa chuva tem nome de tristeza
cai como lágrimas

A previsão estava certa 
disse que ia chover
canivetes para cortar o amor

Meteorologia exata
temperatura baixa
pressão social

Uma frente de frieza humana
veio do sul
nesse verão infernal 
eternizado em nossos dias

Na estação das flores
há um inverno
falta água
o ar está pesado
com seus metais de música

O outono do fim
tudo em um dia
que vira uma noite

Colapso do espaço
o sol morreu
a lua pagou
o céu ficou cidade
a chuva tudo levou










terça-feira, 6 de março de 2012

Lixo Poético





Olho os restos de civilização
todo o apodrecido material
jogado nessa terra

Plásticos de sentimentos
ferros de abandonos
brinquedos de infâncias destruídas

Seu nome é lixo
Coloco a mão e o viro

Não o reciclo

Apenas  sinto em tato

Vejo as embalagens enojado
Sinto seu odor inconfundível
é o cheiro do jantar negado aos pobres
tem a textura de cadáver
do boi e de galinha em tortura

O depósito de lixo está no ar
 boia também na água

Dizem que ele voa 
além das camadas da atmosfera
e que irá cair na cabeça dos cientistas  

O lixo das relações humanas
mentiras e falsidades
medidamente desnecessárias
entre os parâmetros do cotidiano

Produzindo sem parar
o sumo de chorume 
em desunião com o prazer

 Preciso me certificar
que eu também o produzi
por estar vivo
nesses dois imaturos séculos

Que minha genética
memória atávica segue
poluindo desde quando se produz
ganância e egoísmo

O lixo invade o coração
todo o cérebro do intelectual 
e o corpo do fofo bebê 

Os adolescentes o bebem
os idosos dormem em cima
e forma a tumba aos mortos

Leio a sua suja poesia
suas letras esmagadas
suas regras de língua ferida
é tudo isso 
toda a dor e sofrimento
que escreve esse poema
que também é um lixo