quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Balé






Dançando sozinho
abraçado ao vazio
suaves passos dados
nesse salão mundial

Nu de oportunidades
vestido a caráter com trapos
a humanidade se balança

Giro em ruas 
levando ao ali e aqui
a música que toca na mente
um coro de lodo sonoro

Notas populares dos gritos
instrumentos musicais da tortura
acompanham a sincronia de vida vazia

Dança na multidão 
sólido isolamento 
confusão das gentes todas

Solitárias companhias

espalhadas pelos cantos
no baile da existência humana

As vezes toques fortes
aos frágeis sentidos passos
nessa estranha e perdida
dança da caixinha de música quebrada

Existe mais corda a ser dada
coturnos usados
um balé urbano em vazio devastado
dança do animal humano
bailarino solitário amargo
triste sozinho lado a lado consigo

A dança beira abismo

perigo de todo dia
lido o risco
dizem-me morrer  é preciso

Companhia de dança de um integrante

se apresenta em todas as feiras
segundas até sextas
domingos e sábados

Sem descanso a dança

segue sozinha
me balanço nela

Ela é vida

amarga todo dia








quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Gelo




A temperatura cai
no inverno desumano
inferno criado de humanidade

Ah o meu coração gelado
ameaçado de morte
nessa geladeira pública

Bate simples tremendo
a agonia por dentro

Um sangue ralo se esvai
para as veias da cidade

Ah meu cérebro frio
proibido de se expressar
nesse freezer privado

Pensa como pode
em meio ao ar da geladeira social
gavetas de depósitos esquecidos
 percas de validade das carnes

Ideias vão sendo congeladas
todas mortas juntas aos sonhos
separados em pedaços

Gelo no corpo
paralisando todo
esse tudo interno 

Desabafos não esquentam mais
são casacos rasgados onde o vento entra
gélido ar de perigo

Abaixo do zero de ter importância
hipotermia de amor e carinho
é como sentido o arrepio

Sigo indo no gelo fino
pisando forte para o chão rachar

Oh não gelo meu infeliz
meu mundo se tornou
cicatriz na neve






segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Chuva





A meteorologia se anuncia 
letras garrafais  imperceptíveis 
a chuva de lágrimas vai começar daqui a pouco
o chuvisco envergonhado já cai

A previsão é uma tempestade
alagará as ruas do sentir
deixando sem luz interior

Sinais do tráfego racional
vão se quebrar em um vermelho
para batidas de veículos cegos

Árvore genética arrancada
pela força dessa água 
correnteza forte de tristeza
em meio a indiferença alheia

Nuvens doloridas carregadas 
vêm chegando de ônibus urbano
oriundas de subúrbio do mundo

Gotas pesadas do silêncio fúnebre
somados aos ventos fortes depressivos
com raios  elétricos no corpo desanimado
se manifestam perto das montanhas de lixo

Coração alaga
cérebro afunda
tudo lubrificado pela dor

Trovões do choro em agonia gritado
ecoa no vazio do nada
dessa cidade fantasma

É a chuva de lágrimas  







terça-feira, 16 de outubro de 2012

Doação





Dou meu coração
modelo série 1980
usado e um pouco gasto
precisando amolecer

Boa velocidade
funciona bem na noite
bem decorado com poesia e arte
um pouco avariado no amor
mas sem enguiço de medo

Precisa tirar ferrugem
tristeza nos cantos
necessita cuidados

Coração pulsante
combustível travessura
ótima quilometragem 

Caso deseje venha logo
ele está abandonado e na ameaça da rua

Tratar com o cérebro
chame por Emoção Razão
Monotelha da Silva



Dano Psique




A crise toca seu alarme
irritante som dentro da psique 
faz o grito eletrônico futurista
em ríspido estridente que permanece 
oprimindo como luz vermelha de sirene
chibatando os olhos em lágrimas

Horror de uma madrugada interna
dentro do ser em meio ao vazio
nas oportunidades arrancadas
de tal músculo coração
o cérebro treme 

É o dano no quarto escuro
visitante do espaço
o chão fica com lama fria
escorrida da tristeza

Razão e emoção afogadas
nem uma das duas está firme
o eu ferido exterioriza a dor
anulando o respirar
junto ao tato
morde o lábio
sente o amargo sabor de sangue
ouve próprio gemido
chora o dano

As pernas não querem o andar
ficam presas juntas com as mãos
posição fetal querendo voltar ao útero
não mais da mãe humana
mas para dentro da matéria
a própria terra

O subsolo das condições é o que sobra
notando isso com o resquício de visão
desejando pelo menos estar dopado
ou que o corpo e mente migre
para a experiência onírica
um pesadelo mais fantástico
que a realidade torpe da dor

Um segundo de pensamento
faz lembrar que não adianta escrever
sente em sentimento a vontade de gritar
ao passo que segundos retiram a ação
enterrado de volta a vontade de retorno
Oh útero terrestre
que me cuspiu num mundo pus de mim 
inflamado e descontente dessa triste infecção
a céu aberto chamada existência

O rosto ganha expressão de falta
abundância de miséria
o gesto da carência inútil
não há ninguém nessa solidão
quarto escuro da rua iluminada

Momento de viabilidade crônica ruim 
não há força nem ao suicídio
mente perturbadíssima 
corpo em pranto
cachoeira de esgoto
sensações letais

O dano se espalha como colonização
corpo vira território atacado por usurpadores
a mente se sente uma África
o corpo a América

Metástase o câncer mental
signo que ascende 
sem brilho

Capitalizado o medo
grande pânico
miséria de si

Se balança no leito
adormece ao desespero
cansaço do corpo
dano ao organismo inteiro




   

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Escola de Vida




Acreditava numa brincadeira
de vida a todos os vivos
coração bate bate
sonho de menino em alguma bela tarde
uma infância sem fim
mas veio a hora da aula
jardim da infância de flores podadas

Já é a hora de se tornar homenzinho
 um adolescente quieto
obediente a autoridade por perto

Vai ai apanhando
caso não passe de ano

Viu o menino de rua
vírus na vida pura
veneno social a se tornar

Segue sem reclamação
namora uma consumista
e vai tendo amizades dignas 
com muitos idiotas na via

Votou em tiranos sorridentes
pôde chorar em aniversários
beber venenos no fim de semana

Indo ao trabalho
aprendiz de otário
pagava sangue ao patrão

Adulto adulterando seu próprio sonho
vivia o pesadelo de salário
indo atrasado ao corpo
doença civilizatória
hospital cemitério aberto

Agora idoso largado
serve a sociedade como osso 
cachorro subserviente do ali
migalha nada meiga
vida estragada inteira

Tomando o remédio
a bula do tédio
a dor
a caixa registradora

Sepultado em pesadelo
mais um sonho morto
 junto do corpo
 um antigo ex-moço













sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Futebol






Vai começar a partida
coração cortado para cada lado
imbecilidade desportiva
a bola de cifrão vai rodando
apenas aos abastados

Jogo de futebol em campo
o norte contra o sul do mundo
riqueza em cima 
miséria do lado de baixo

Os times com suas camisas de força

sujas de petróleo e radioatividade
esporte manicômio humano 

Muitos lances de roubos
faltas violentas de florestas
impedimentos liberados
oceanos sangrando esgotos
campo da jogatina

Mini torcidas de industriais 
vibram com dribles nas leis  
dirigentes e árbitros larápios
inimigos do povo

A população da miséria não liga
nem vai aos estádios
nada de comentários
ou apoios aos seus próprios
bilhões de joga  dores 

No campeonato do neoliberalismo 
os Estados dão todo o patrocínio
máfia legalizada
sangue do povo grátis

Pênalti da fome
cartão vermelho ensanguentado aos pobres
cartão de crédito amarelo de ouro para ricos

O técnico Adam Smith sorri no banco
através da escola clássica de futebol Manchester
só seus atletas possuem vida aberta

O outro time é famélico

contrato de jogador mau pago 
semelhança como escravo
a liberdade de jogar no capital

A burguesia futebol clube
parece estar a caminho de ganhar
o campeonato de guerra global
troféu de ogiva nuclear na face

Gol 
 mundos humanos se acabam



  





quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Escravidão Moderna





Escolha seus amos 
os de amor a não lhe amar
apenas o egoísmo a si
em encontro de desunião

Com quem falava antes

agora é o cale-se
Como se comunicava feliz 
hoje em dia é fique mudo triste

Obedeça o falso carinho
 propriedade posse peseudo amante
horror enamorado
ciúme perverso
poesia fúnebre a dois 

 Os amos amizades
quem andar em afinidade finita
ideia e crosta de desunião
falsidade da companhia
traído por quem andas
companhia indigna 

 Os amos do trabalho
tripalium cotidiano
a sair sangue dos olhos ao lucro
obediência de horário tortura salário
chefe chefia patrão
destruir o mundo
acabar consigo

 Amos de toda sua vida
família que lhe escraviza 
como ser e o que ter
obedece aos teus pais
monstros repetidos
Ser a família moral
ter e mandar nos filhotes

Destrua seus sonhos
obedeça a cidade
arraste seu corpo
ordens que lhe mordem

Arrase a própria vida
respeite a lei do líder
o governo do vespeiro

Aniquile a vida alheia
guie ela a seu favor
mande nela
ensinando ela amar o amo

Almoce mentiras industriais
governe seu próprio corpo sendo tirano
arrancando a saúde 
chute como bola de corpo

Atropele os animais
coma os bichos encarcerados 
sabor tortura repugnante 

Durma o sujo da consciência 
o cérebro mandando no corpo
com o lixo torto em vida

Desacredite no organismo
olhe o relógio presidente do tempo
primeira máquina amada
o amo da ditadura temporal

  Morra em vida
côrte marcial
exército exercício de guerra
nação e triunfo do vazio

A destruição é a lei
esqueça  tudo de ti

Obedeça aos amos

lembre da ordem
siga ao abismo existencial




Escravidão Moderna



Escolha seus amos 
o do amor a não lhe amar
apenas o egoísmo a si
com quem fala cale-se

Como se comunica mude
obedecer o falso carinho

viva propriedade amante
horror enamorado
ciúme perverso
poesia fúnebre a dois 

 Os amos amizades
quem andar em afinidade finita
ideia e crosta de desunião
falsidade da companhia
trair com quem andas
companhia indigna 

 Os amos do trabalho
tripalium cotidiano
a sair sangue dos olhos ao lucro
obediência de horário tortura salário
chefe chefia patrão
destruir o mundo
acabar consigo

 Amos de toda sua vida
família que lhe escraviza 
como ser e o que ter
obedece ao teus pais
monstros repetidos
Ser a família moral
ter e mandar nos filhotes


Destrua seus sonhos
obedeça a cidade
arraste seu corpo
ordens que lhe mordem

Arrase a própria vida
respeite a lei do líder
o governo do vespeiro

Aniquile a vida alheia
guie ela a seu favor
mande nela
ensinando ela amar o amo

Almoce mentiras industriais
governe seu próprio corpo sendo tirano
arrancando a saúde 
chute como bola de corpo

Atropele os animais
coma os bichos encarcerados 
sabor tortura repugnante 

Durma o sujo da consciência 
o cérebro mandando no corpo
com o lixo torto em vida

Desacredite no organismo
olhe o relógio presidente do tempo
primeira máquina amada
o amo da ditadura temporal

  Morra em vida
côrte marcial
exército exercício de guerra
nação e triunfo do vazio

A destruição é a lei
esqueça de tudo de ti
lembre da ordem


 siga em frente ao abismo existencial


quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Madrugada Urbana





Vento sujo na fresta
assovio da cidade
madrugada e cimento
tudo tipo vazio
os lixos perdidos voando
as pessoas em maioria
nas caixas tidas casas

Outros trocando a noite pelo dia
apenas alguns seres
no viver do escuro

Mergulhos em piscinas dos bares
respiros de fumaças 
chaminés da carne
baladas de doentes
fugindo da alta hospitalar

Dores psicológicas fortes
nos pesadelos dorminhocos
acordados nos que dormem

Baratas passeiam nos cheiros
ratos namoram comidas
trepam em prédios de motéis sem pagar

A madrugada é literatura maldita
cuspida pelos seres da noite
vomitada pelas manhãs sangrentas

Perigos pouco vistos 
defeitos disfarçados
a noite o osso do dia

Madrugada amarga
toda pessoa solitária
fortalece o nada

Casais apenas  poucos
felizes e agarrados
a maioria é de vida arrasada 

Moradores de ruas
não apagam a luz dos quartos
sonham apenas casas
nos seus pesadelos urbanos

Se há frio
não existe calor humano
quando vêm o calor
aparece a frieza inumana

Nos cantos de becos
jovens errantes
fazem poesia marginal

Quando a noite cai
sobe um novo dia
sem o tal sol

Hospitais e cadeias
funcionam normalmente
angústia da existência

É ela a madrugada
espaço das horas
assim escondidas
limites da rotina do dia

Madrugada ferida do careta
linha torta da loucura
descompasso dos certos
abrigo de erros e errados
os melhores do mundo
o lado B vivo

Madrugada maldita!



terça-feira, 2 de outubro de 2012

Rede de Relacionamento




A tela fria está acessa
muitos rostos desfigurados

Produtos da prateleira on line
sempre a um clique de contato
numa solidão compartilhada

Informações decodificadas
visualizações de solidões
gemidos de dor musicalizados

É um açougue de carne humana
dados pedaços objetos sem objetivos
apenas buscando aplausos e elogios
aos egos inflados com falta de ar

Adicione a subtração
subtraia sua vida
multiplique o que aliena
divida o lixo

Brinque de jogos de poder
controle os outros vigiando
assim como faz o papai do céu
assim como poderosos do capital

Sorria você está sendo marionete
pior do que filme de terror
os gostos fúteis nas escolhas
  seções aflitas de cargos

Esperando para serem comidas
vidas frias e industriais 
sempre vazios estômagos do lucro

Livros de faces falsas
relatório de investigações criminais
todos puníveis por apenas viver

Rede de relacionamento
abraços e beijos
assim virtuais
teclando o nada


Comentando os restos de vazio interno
fotos sempre do tal bonito
curtindo o resíduo pútrido

Acrescentar inimigos
deixar de ler livros
nova televisão
substitui o real
por um pirulito de ilusão









Relógio Público





Tic tac atraso em dia
piripaque social
burocracia na hora

Números enrolados
datas para o estrago
início em desamparo

Senha para filas
filho filha e família 
ausência de curativo
machucado dedo na ferida

Atendimento lixo
serviço público indigno
senta ae no chão
sinta-se sozinho

Tic tac porrada de tarde
esmola educacional estadual
polícia cadeia e lucro
crime governo ilusão

Pessoas bonecas enumeráveis 
prazos de validade vencidos
hecatombe popular à vista

Identidade desfigurada
rostos arrancados
culturas extintas

Tic tac aniquilação de noite
dorme no relento da oportunidade
devasta o seu coração
devido ao cérebro de poderosos

Vazios visíveis 
deserto vasto 
areia dinheiro

Nenhum partido ou governo
vai parar de fatiar a carne
de qualquer bicho humano
ou animal dessa terra injusta

A fila segue ao velho pivete
doméstico bichinho e escravo urbano humano

Moedor de carne 
máquina registradora




Relatório do Aeroplano




A nave está avariada
tende a descer no planeta abiótico
além do mais falta combustível
tanques vazios de animação

As hélices estão quebradas
sem óleo vital para o giro urbano
há um campo minado
onde se terá de pousar

Não existem mantimentos
a comida está no fim
apenas chupar o dedo

O relatório de voo rasgou
queimou na labareda de egos

Há um pouco de ar
cigarros acessos destruindo oxigênio

A caixa de sonhos propulsores
foi molhada por litros de lágrimas
totalmente inutilizada

A região inóspita reina
burocracia e egoísmo
vastos campos de refugiados

A configuração é de sobrevivência
vai se dirigindo devagar
bateria anti aérea apontada
mostra quanto existe de amor

Não há cuidados
nem chances matemáticas
a nave mãe sumiu

O pouso será forçado