domingo, 27 de fevereiro de 2011

Motorista Assassino





Declarado a morte do ser amado
por um carro passado em cima
com suas rodas de crueldade
a antipatia como combustível
guiado pelo monstro social

Lágrimas molham bicicletas
entortadas junto aos corações
o chão com sangue derramado
é a desgraça pela rua lavada

O acelerador do carro
é a peste no corpo da vida arrancada
há um vomito de lixo fétido
jogado na direção da esperança

A multidão toda faleceu
a via inteira se perdeu
as pessoas dos prédios
o trânsito de carros ...

O poeta também morre ali
se feri e sai de coração despedaçado
Sobram as carcaças e rastros
os danos espalhados pelos cantos
gemidos de dor e pura revolta

O pessoal da bicicleta atleta
o cara assassino do carro
a rua poluída e cinza
compõem as vias indignas
da triste vida de cidade maldita


MonoTeLha

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

A Escolha






Não quero sair do olho do furacão
muito menos da tempestade
quero o frio e o calor extremo
a vida na pele assim batendo

Desejo balançar no terremoto
sentir tudo até os ossos
estar firme e não largar

Entrar de vez no problema
mergulhar nesse esgoto
comer esse saco de lixo
viver essa metrópole

A catástrofe vai me conhecer
receber o cartão de visita
seus estragos me abraçarão
eu a beijarei em sua louca boca

Olho no olho
o furacão e eu
sem parar o olhar
Sem desistir
nem cansar
decidido enfim
de ir até o fim










MonoTeLha

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Poluição Sonora






O sinal está tocando
alarme contínuo na cidade
as sirenes da polícia
o barulho dos motores

Estrondo numa esquina
uma obra em suas vias
as buzinas e os tiros

Avião e o trem sem parar
passando perto do menino
que fica direto a berrar

Gritaria e choros
sons estridentes
máquinas e ruídos

Os barulhos entulhos
dentro do ouvido surdo







MonoTeLha

Visão




Olho o mundo

cada centímetro dele
vendo o coração em ataque

As estradas do horror
os campos pegando fogo
os refugiados para o nada

o sangue derramando
o massacre aplaudido
em todos os dias

a imundíce
a contaminação nuclear
devastando a pele do mundo

o planeta
seus desertos cheios de sede
os mares sendo esgotos
e todo lixo de horror

a Terra
dando seus suspiros
os meninos mendigos
as meninas feridas
as imagens minhas e suas
num álbum de família falecida

Olho o humano

o medo e a dor
o continuo horror

A montanha de mortos
os animais embalados
a esperança destruída
a vida toda indigna

Acho que vejo
até a cegueira

a falta de voz
o nó na garganta

a ausência de sabor

sentido a sede
morrendo de fome

Olho as horras passarem


MonoTeLha

Pontualidade





Está na hora é exato o agora
os estudantes serão reprovados
e salários mal pagos
a hora do machucado
momento de desamparo

Minuto da entrega do lixo
segundos da dor forte
o fim do analgésico
a hora da sede

Esse é o momento certo
a violência é o sucesso
a guerra e sua audiência
mídia de massa que esmaga

Está na hora é agora
o coração parar de bater
da miséria crescer

As lágrimas cairem
junto aos mundos 
num abismo de tudo





sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Canto




Eu paro e desisto
não arrisco o sorriso
estou caido no chão
o tapete foi puxado
de toda boa vinda
ficando apenas a partida

O canto escondido
é agora um bom abrigo
entro devagar e vou ficando
me escondo assim parado
dentro do meu desamparo

O sonho saiu e entrou o pesadelo
a alegria para longe foi viajar
a senhora tristeza mudou pra cá

Vendi meu coração para dona mágoa
abri os braços pra solidão me agarrar
deixei os poderosos me pisarem
os mais fortes me batem com força
eu apenas entrego meu cadáver

Não vejo sentido nas placas da via
minha vida perdeu o sentido
quase que de tudo desisto
mas sobrou o canto
nada mais e nada de menos
apenas esse canto



MonoTeLha

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Despedida




Vejo ao longe
a despedida que vira
meu corpo todo uma
feia e dura ferida

O vazio a única ponte
última visão de flores
ah o cabelo sumindo
via única para o muro

Uma estranha droga
estampada e com fotos
no meu jornal mental

Ah que vida
acaba na fila seguida
vai embora, amarga hora
pegar o trem que já vêm

Sobram os restos
a bomba solidão bebida

Eu sonho dentro do pesadelo
Quero minha cadeia aberta
pensamentos prisioneiros livres
meu choro saindo

Te quero oh vida
mas já é como um cadáver
uma bela suicída menina

Tantas coisas ruins
vazios que enchem a vida
violência nessa demência

Sentimento de fim de mundo
meu mundo nesse luto
rompimento da impenetrabilidade
bate o coração com dor

Quero o hospício solto
loucos todos saindo
minhas lágrimas gritando

Esperança morta a queima roupa
tiros de munição cheia de dinheiro
o corpo em desespero pleno

Queria andar pela rua
mas a cidade sitiada me para
minhas lágrimas caem chorando



MonoTeLha

Desabafo






Eu olho a tela fria
espero sair
entrar pra fora
solidão maldita

Sinto vontade
tendo o desejo
de ir embora
nessa hora
vazio aqui
coração
cérebro

Por favor
analgésico
anestesia

Por favor
chega de sentir
ter raciocínio
ter fome e sede

Não quero dormir
esse frio me gelou

Há gritos em mim
tenho vontade
tenho desejo

morrer

Morrer não voltar
não mais viver

Morrer sair daqui
puxa por favor

deixe-me sair





MonoTeLha

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Família




No olhar para o espelho
há um olá para minha família
sou a foto negada no álbum

O seio é pedaço de mãe
o pênis um pai
cérebro avô
espinha avó

Pernas tia e tio
pés primos
pensamentos filhos
meus irmãos os olhos

Estou doente de saudade
só restou o eu no reflexo



MonoTeLha

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Hino de Necrópolis





Oh cidade sepultura
onde o mar poluído vomita
em areias mortas litorâneas

O sol devasta a terra massacrada
Teus rios regam de venenos

Tu ficás cidade num pesadelo

Censura na história inglória
a cantar teus desencantos
teus céus poluídos
os seus enfermos
o seu desespero

Anos e amos do fracasso
um passado presente e futuro
em puro colapso destroçado

Perto o infortúnio de todos os espaços
a domina pedaço por pedaço

Espalhar se a desgraça em suas vias
coisa normal de seu dia a dia
Nada se ilumina em suas feridas
eis a cidade que arde doente

Os donos a fazem morrer
todo o ser sofrer e apodrecer

Oh cidade mundial
suas ruas ao abismo
sua saída o suicídio


MonoTeLha

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Tédio Funesto







O tédio no coração
com a falta de vida dentro
tendo um cérebro preconceituoso
relações de muros nunca de pontes
na vida disfarçada de luxo
sendo simples e puro lixo

Não recebe pobres
não divide os dólares
o privilégio é mero tédio
solidão amargura e ilusão

As noites vão caindo
os dias seguindo
os minutos são horas
que não passam

Há anos que é assim
ida triste de solitário infeliz
sem falar com nem um bicho

A vida vai acabando
fase adulta já velha virando
a diversão é ficar calado
sem sair de casa

O tempo come a maior fatia
a fome de vida anestesiada
justamente por fazer o nada

Nem a tecnologia anima
a tela fria de computador ou tv
também se esqueceu de você

Sem amigos nem queridos
falta de visitas vida vazia
estadia do tédio de todo dia

Futuro cadáver que vai feder
sozinho até o fim da saída
receber o carro da funerária
para embaixo da terra fria
continuar permanecendo parado




MonoTeLha

Óptica da Realidade




Olhando para os lados
vendo a vida em desamparo
o caminho ao trabalho é um fardo
ver o povo alienado e sem direitos
pagando alto para ficar sempre em baixo

São conduções caras pagas
transportes como correntes
presas no corpo todo

Hospitais públicos cemiteriais
tratando pacientes doentes
como sacos de lixo e entulho

Viciados de crack nos cantos
gemendo suas fumaças
seus corpos em carcaças
arrastam a vida no centro

Escolas puras esmolas
meninas e meninos sem futuro
pra conseguir no máximo ser escravo
ganhando poucos centavos
não conseguindo morar e comer

A poluição invade essa ida
a vida numa espessa neblina
grosso caldo de morte

Antes de entrar para trabalhar
momentos antes de dar meu sangue
para ganhar o mínimo falido
vejo um corpo caindo do prédio rico
Observo que os que passam gostam
uma alegria encantada pela desgraça

Minha mágoa humana bate cartão
numa máquina da tristeza capitalista

Uma lágrima cai para dentro do abismo de mim



MonoTeLha

Hino Nacional



Oh marcha fúnebre nacional
cada ser solitário te ouve
piano tocado como lágrimas
que vão caindo frias
continuando o som triste

Como se a miséria fizesse carinho
ela passeia pelo corpo dos pivetes
a morte prepara o seu berço

Roncos de fome e arrogância
aviões supersônicos com bombas
fazem sua parte a todo instante
nome e sobrenome de melodia
horrível de autor a seguidor

A tinta da sede cravada
escreve sua partitura completa
o ranger do barulho da sepultura

Terra capitalista brutalizada
o estupro é cartilha para as mortes
milhares de soldados brigando
por centavos e nem alimentados

Estouro dos tímpanos sujos
em notas dadas para vidas
esmagadas e pisoteadas

Canção da pura destruição
ensinada de manhã bem cedo
em escolas preparatórias
para extinções mundiais
aprovadas com pontuação máxima








MonoTeLha

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Sede


Sentindo sede

Sede apenas

Sem ter onde beber

Viver virou um copo vazio

Beber água é coisa de rico

Sentindo sede

Sede na vida

Não há como caminhar buscar em outro lugar

Engarrafada e cara

Eis a desgraça da falta d´água

esgotos bem cheios

Reservatórios vazios

Sentindo sede

Muita Sede

Apenas sede

sede




MonoTeLha