terça-feira, 7 de setembro de 2010

Inverno



O frio gela lá fora
esse cobertor é o que salva
ele cobre a pele que sofre

pobre de vida torpe

Há a febre no casulo
o corpo moribundo
numa dor de um urso
que não hiberna
nem vai virar borboleta

Não tem terra

para se plantar flores
só o habitat inóspito
depósito de carcaças

pobres desamparados
largados pelos cantos
entre gemidos
nas gélidas marquises

Maltratado na fome
é o nome próprio
um registro geral e nada mais
mas esse cobertor é o que resta
lá fora o vento nuclear
quer abraçar

A febre de dentro conversa
bêbada ela vai deixando tonto
a entrada de ar virou caverna
a puxadinha do tecido nos pés
virou trabalho de gente grande
nada das coisas de crianças

que brincam e sonham


Lá fora é inverno
e dentro há sonhos de inferno
a miséria é sempre fronteira
em cada beira
em cada teia
a aranha quer pegar
o guarda quer fuzilar

É o início da noite fria
há gritos dentro dessa maloca
e uma mente louca solitária
sem saber o que é o que é

A dor vêm já pesada
para dar suas cartas
da cara desse mundo
sem ferramentas para consertar
tem que deixar tudo quebrado
sempre só esquecer
lembrar de perder tudo
só saber estar na rua
sem família
sem amor
sem amigos


O cobertor é o que salva
venha cá saco de lixo
vou lhe dar carinho
por favor
me beije a boca




MonoTeLha

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