Declaro minha miséria
meus trapos
os meus farrapos
Fotografias de jornais
de onde fico largado
Descrevo a fome
que sinto
estou subnutrido
Minha sede
sem água potável
mas cheio de alcoolismo regado
Enumero pertences
restos de nada
perdas de dentes
Meu analfabetismo
Não sei escrever nem ler
anota ai
senhor doutor
Minha enorme miséria
as feridas abertas
meus sacos plásticos
e filhos pivetes
vendendo chicletes
Declaro minha renda
o vazio nos bolsos
a pobreza acorrentada
nos pés e pescoço
Todos os ossos do ofício criados
para manter a estrutura de pé
e as vítimas da fome caídas
Possuo a vista dos ricos me pisando
cartão postal da injustiça
Governo manipulador
carência planejada
miséria alastrada
garante minha propriedade
o oco em toda minha idade
Salário mínimo
garantido em minha vida
triste sina
Tenho altos ganhos
Choque elétrico tétrico
escrito ordem nas armas
Direitos humanos no cassetete
Guardo no corpo as porradas da polícia
as proibições de trabalhar
o imposto que não posso pagar
Possuo educação e saúde
esculachada geral
desemprego brutal
Estado funcionando
garantindo a queda do abismo
é o que tenho em direito
Ricos lucrando e eu pobre
apodrecendo em relento
A vida escravizada dos pobres
está agora declarada no imposto de renda
entre escombros e destroços
Nada a declarar
então declaro minha miséria
toda a pobreza
o vazio citado
o corpo devastado
MonoTeLha
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