segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Desalojo





O máximo que puder fazer é miséria
não há como trazer o lazer
somente poder deixar morrer
não tem como ajudar algo como levar ao lar
deixar ter o banho, comida e água

A cama não é nem para olhar
a sala não é para você estar
sem o mínimo sentido sentimento
será pisado e ultrapassado
não há como lhe acudir
A construção inteira é um fim

Saia daqui
volte com dinheiro
não ligo para o seu desespero

Pague o aluguel
o cálice de fel


Pague a água parada
que a vida lhe cobra
sua estadia te pica e estraga

A possibilidade de trabalho é fome e sede
para seu nome e sobrenome
nobre miserável réles homem

Pague a luz
seu brilho dos olhos
a conta não reduz

Não há nada pra ti
só a união dos vazios

o canto das ruas
a desunião e solidão

o fato do desprazer
e o ato de sofrer





MonoTeLha

Ataque cardíaco



O coração não bate mais
um minuto atrás morreu
uma parada
numa estação errada
um ataque súbito
seu amor faleceu


O coração ria mas chorou
de uma dor num fogo louco
foi assado em tortura
desamparado e solitário


O coração não aguentou
ele parou num sinal
bem vermelho e numa rua
triste como a minha e a sua


Ele tentou ser reanimado
mas já estava cansado
a miséria havia lhe matado
e a sociedade lhe enterrado


MonoTeLha

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Capitalismo




Vende-se o mundo

Não é barato
mas é liquidação
pobres não compram
mas ricos obtém
tudo podem ter
e pagam pra ver


Vende-se o mundo

Com tudo dentro
incluido seres vivos
pacote completo


Vende-se o mundo

ricos vendem
ricos compram



MonoTeLha

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Passeio Mundial




Andando de barco no esgoto
não me deixa parar de ver
sujeira e tristeza


Meus olhos com lágrimas
contém da poluição
boa parte que me arde
me separa ao meio


É sempre tão fria a lâmina da realidade
que nôs corta e entorta a vista


Está tudo sem cabeça
e para baixo
caído e indiferente
aos montes de vazios


Andar de avião no ar sujo
me faz ver tudo morto
só barbárie em toda parte



Me desculpe não poder atender
a telefonia do cãncer celular
a chamada de espera SOS
foi desligada



A natureza morrendo num mundo sendo vendido
os preconceitos evoluindo virando bombas
no meu avião
no barco
e tanque de guerra individual
solidão total



Num coletivo sem sentido
a vida beirando o lixo
o indivíduo pede ajuda e agoniza
sem que ninguém lhe acuda


Trem fora dos trilhos
meninos indo ao genocídio
a guerra que enterra
no deserto das possibilidades


Os vermes numa alucinação real
comendo sonhos
devorando as esperanças


A clínica de desentoxicação mundial
está fechada para os viciados
Drogas Estatais, mundiais e boçais

O hospital sem médicos e com aval
para receber as vítimas sozinhas
nas ilhas desertas do sentir

O shopping do desespero
vende pânico mais barato
pra comercializar a sede animal
destrutiva e indiferente
com força total


A loja de bichos vende crianças escravas
e seres sem vozes humanas
mas as bandas tocam
imploram seus ódios sem amores
sons de dor e muito terror


Gritar virou besteira
igual ao choro
ao mundo todo
ao socorro que não chega
nem lá nem cá


Fomos andar a pé
entrarmos numa caverna qualquer
prédios de risadas televisionadas


Esperando tudo se aniquilar
pra depois tentar passear
num mundo com umas sobras
restos de obras desumanas



MonoTeLha

domingo, 12 de setembro de 2010

Resultado Positivo




O resultado chega
dizendo que a proteção
acabou
meu corpo frágil
se tornou


HIV positivo
tira a calma dos trilhos
descarrila o viver


Apoiado agora em remédios
e cuidados sérios


O que fazer
juntar os caquinhos nessa ida
maldita desprotegida vida


HIV positivo
fato negativo
a ser vivido
por não se proteger
agora é mais fácil
adoecer


Tentar se cuidar
e para os outros
o vírus não passar


Tudo protegido
ou correr perigo
no caminho mais rápido
para o cemitério eu sigo
se eu não me cuidar
caso eu não venha a me tratar


HIV positivo
corpo desprotegido


Sigo
vou indo
frágil
correndo perigo








MonoTeLha

Declaração de IR




Declaro minha miséria
meus trapos

os meus farrapos
Fotografias de jornais
de onde fico largado


Descrevo a fome
que sinto
estou subnutrido
Minha sede
sem água potável
mas cheio de alcoolismo regado


Enumero pertences
restos de nada
perdas de dentes


Meu analfabetismo
Não sei escrever nem ler
anota ai
senhor doutor


Minha enorme miséria
as feridas abertas
meus sacos plásticos
e filhos pivetes
vendendo chicletes


Declaro minha renda
o vazio nos bolsos
a pobreza acorrentada
nos pés e pescoço
Todos os ossos do ofício criados
para manter a estrutura de pé
e as vítimas da fome caídas
Possuo a vista dos ricos me pisando
cartão postal da injustiça

Governo manipulador
carência planejada
miséria alastrada
garante minha propriedade
o oco em toda minha idade


Salário mínimo
garantido em minha vida
triste sina

Tenho altos ganhos
Choque elétrico tétrico
escrito ordem nas armas
Direitos humanos no cassetete
Guardo no corpo as porradas da polícia
as proibições de trabalhar
o imposto que não posso pagar

Possuo educação e saúde
esculachada geral
desemprego brutal


Estado funcionando
garantindo a queda do abismo
é o que tenho em direito
Ricos lucrando e eu pobre
apodrecendo em relento

A vida escravizada dos pobres
está agora declarada no imposto de renda
entre escombros e destroços


Nada a declarar
então declaro minha miséria
toda a pobreza
o vazio citado
o corpo devastado




MonoTeLha

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Cracolândia




A boca do lixo
que come gente
olha o menino

Seus dentes contentes
e língua saltitante
olham a menina

Quer sempre mais um
pra mastigar
para triturar

A boca do lixo
não defeca eis que
ela é a própria merda

Seu estômago de peste
reflete a sociedade
Sua doença não é um teste
A sua existência permanece
ao norte sul leste e oeste

A boca do lixo
quer engolir
qualquer um
que passar por ali

A boca do lixo
está esfomeada como sempre
num ronco de mil mendigos
em cada gota de saliva
Ela quer comer
tanto faz eu ou você


MonoTeLha

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Restaurante


Pode - se comer agora o lixo
não falta mais a contaminação total

Vai menino come
não fique com fome

Os coliformes fecais vão ser temperados
em cada prato no ato

Os metais pesados estão preparados
para serem servidos no caldo

Exageiro de sal e açúcar concentrado
no preparo de cada receita na mesa

Tortura animal
soja desvastação florestal
para todos os desgostos

Conservantes e químicos
no cardápio em preparo rápido

Pode escolher o que comer
e na digestão apodrecer



MonoTeLha

Criança baleada




O menino brincava com a arma
em coma o menino não brinca mais

Morto ele não corre alías
não vai atrás dos colegas

não brinca de pique e pega

Ele comia balas doces
a munição comeu a cabeça dele

A brincadeira de polícia e ladrão
virou realidade sangue no chão

Mamãe e papai
cada um chorou
a indústria sorriu
senhor das armas lucrou

O menino caiu
a bala furou
e mais uma vida
acabou




MonoTeLha

Inverno



O frio gela lá fora
esse cobertor é o que salva
ele cobre a pele que sofre

pobre de vida torpe

Há a febre no casulo
o corpo moribundo
numa dor de um urso
que não hiberna
nem vai virar borboleta

Não tem terra

para se plantar flores
só o habitat inóspito
depósito de carcaças

pobres desamparados
largados pelos cantos
entre gemidos
nas gélidas marquises

Maltratado na fome
é o nome próprio
um registro geral e nada mais
mas esse cobertor é o que resta
lá fora o vento nuclear
quer abraçar

A febre de dentro conversa
bêbada ela vai deixando tonto
a entrada de ar virou caverna
a puxadinha do tecido nos pés
virou trabalho de gente grande
nada das coisas de crianças

que brincam e sonham


Lá fora é inverno
e dentro há sonhos de inferno
a miséria é sempre fronteira
em cada beira
em cada teia
a aranha quer pegar
o guarda quer fuzilar

É o início da noite fria
há gritos dentro dessa maloca
e uma mente louca solitária
sem saber o que é o que é

A dor vêm já pesada
para dar suas cartas
da cara desse mundo
sem ferramentas para consertar
tem que deixar tudo quebrado
sempre só esquecer
lembrar de perder tudo
só saber estar na rua
sem família
sem amor
sem amigos


O cobertor é o que salva
venha cá saco de lixo
vou lhe dar carinho
por favor
me beije a boca




MonoTeLha

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Fantoche




O boneco vai sendo feito
Cordas nos braços e pernas
Roupa colocada em série
traços e gestos
certos manipulados

O boneco se mexe
para lá
O boneco é jogado
para cá

A marionete começa
o trabalho
sempre controlada

Se ele quebra
não se conserta
Joga o boneco
inteiro fora

Se a corda do controle arrebenta
coloca-se outra mais forte ainda

O boneco nada ganha nada possui
só trabalha para um robô engravatado
que o comando os seus passos
Mexe - se aqui ele come ali
mexe lá e vai pra caixa suja

O boneco é morto
só fica vivo
se ficar livre
virando pássaro solto
pelo mundo todo



MonoTeLha

Indivíduo Libertado




Os vândalos neurônios
jogam baldes de pensamento
líquido e quente
nas engrenagens elétricas
da subserviência mesquinha

Vomitando agora
o artificial
Células se alimentam
com o natural

A revolução desce e espinha
faz o pulmão enfim respirar
agora luta para engolir o ar

O corpo é tomado pela anarquia
fica organizado em pernas e braços
num tesão a flor da pele
lutando contra a autoridade

Ser desuniformizando
ao lado de bichos soltos
para lá e para cá

A dança se espalha
pedaço por pedaço
do ser libertado



MonoTeLha