sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Turismo





Olá sou seu guia

vou mostrar alguns
pontos turísticos


Como podem observar
arrancaram os olhos
desses meninos
para os impérios
verem

Ali as armas
usadas
em larga escala
para matar o tédio
dos donos
das indústrias bélicas

Aqui notem
as farmácias
aplicarem venenos
nojentos
para a vida longa de problemas
precisar
de mais remédios

Nesses prédios históricos
a escravidão
rola solta
com pessoas presas
num sistema econômico
até hoje


Conheçam a floresta
para a avançada tecnologia
de desmatamento
progredir
e a mata destruir


Apreciem a vista
dessas pessoas perdidas
pelo narcotráfico
criado e mantido
pelas oportunidades
investidas trabalhistas


Esse belo hotel
serão os seus aposentos
feitos de carniça
de pessoas enlouquecidas


Aproveitem
tenham bons sonhos
Estamos só no início



Amanhâ tem mais
Eis nosso lindo
pacote turístico



MonoTeLha

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

O Programa



Sempre quis
nunca pude

Mas agora acho
é a chance

Um grande
negócio
de mentiras

Um programa de Tv
bem fútil
com propostas inúteis

Fui convidado
a apresentar

Ser rico e agir
como faziam
comigo

Humilhar os outros
mostrar corpos
produtos
Todos os objetos
certos de desejo
de consumo

Sempre quis
e agora posso
vencer pela
idiotice da Tv

Ligarem no canal
e desligarem o cérebro

Achar o absurdo certo
fazendo me sentir
esperto esmagando

Ligue a Tv
você vai ver
eu enganando você



MonoTeLha

Rio de frieza




O frio humano
num calor carioca
é verão

A cidade que se parte
em atrocidades
natureza desprezada
muito trágica

O choro toca
o tiroteio alto
pra frente

O choro proibido
nascer na praça quinze
já reprimido


Um abandono de si
a cidade do Rio
crianças sem nada
chamando de tio
órfãs e carentes

Falo pra ti
pra mim
para geral
a forma brutal
uma poesia triste
na porta do banheiro
da delegacia de todo dia
preso e nunca saindo ileso

Perdi meu quarto
minha vida na metade
inteiro chateado permaneço
Sem casa e de asas cortadas
Apenas vivendo num mundo
onde não há pena de nada
Há apenas duras penalidades
para quem não tem oportunidades


Governo a proibir
o trabalho
me tornar desempregado
Mandar a polícia bater
choque de desrespeito
com tiros no meu peito

Enchentes para as gentes
falta de escola e educação
meu papel no chão
meu lixo e identidade

Nessa madrugada
bebo pra aquecer
Droga lícita
num alcoolismo de pé sujo
tentando tudo
esquecer



MonoTeLha

Almoço de segunda


Comendo a poeira
dos dias
das noites
vazias


Como o lixo
puro desperdício


Armas
tiros
imagens de filmes
proibidos de não serem
assistidos e repetidos


Como o som
e leio livros
sem sentido


Como meu corpo
me deito
e devoro


Vomito
tudo isso


E com a boca arrebentada
nem me alimento


Como todo mundo
só que
fui primeiro
ao meu enterro



MonoTeLha

Perdido



Agora me perco
não me acho
estou largado
jogado às traças
na esquina do presente com futuro

Larguei tudo
desisti
desse horrível fim de mundo

Vou indo sem abrigo
pelas ruas seguindo
Como esgoto que se vai

Corpo
descarrilhado
dos trilhos


Caminho sem volta
ao torto
ao norte
na praia poluída

Ver destroços
desse mundo
de mortos

Navios que bóiam
como fezes
Fazendo a vida
como algo reles
Petróleo no mar entregue


Apenas caio na areia
multi contaminada
não levanto
não mais
nunca mais


MonoTeLha

Estaçâo Estagnação




Fervendo
no frio
do que sinto

O período de dor
estação gelada
humanidade estagnada
proliferando no calor das feras
monstros humanos de pavor
com suas friezas
vivendo nessa esfera
em guerra


Observo ao redor
das dores
largo - me
na sarjeta
da vida urbana

Ali possui muito nada
e lá também
próximo bairro
município
estado país e mundo inteiro
permanece em desespero

Das contas
só subtração

Das histórias
só as hecatombes

Dos restos
só os restos

Perdido na ilha deserta
das cidades
com sangue
por todos os lados

Parado aqui
no mundo destruído
descanso
as feridas
nesse fim
sem saída



MonoTeLha

A volta




Ontem sai
perdi as horas
nem cheguei
a lugar nenhum
nem tinha onde ir

Vi tudo errrado
pessoas gritando
se matando
por dinheiro

Pessoas destroços
bolsa de valores
saco de dores e ossos
Sentimentos em remendos

Mundo vazio
cheio de pessoas

Ontem sai
perdi de chegar
sem tempo

Vi tudo incerto
corrupto e poluido
Uma ex-floresta
fome de comida
e sede de água

Mundo cheio
de pessoas vazias

Sei lá pra onde
eu sai
foi por ai
Acho que uma rua comum
de qualquer lugar
tinha carros e prédios
tanto faz
é sempre igual

Embriaguei-me demais
de água impotável
favo de vel
bebida chamada
realidade
presa um garrafa
em minhas mãos
lacrada
engolida como comprimido

Sofrimento quase gratuito
distribuido

Ruas
coisas ruins
pra ali
pra lá
em tudo
tanto faz
em qualquer lugar


MonoTeLha

Liberdade final





Soltem - me
quero ir
aonde não pode


Soltem - me
tenho pressa
de ir embora

Corpo prisão


Soltem - me
dessa vida artificial


Deixem - me ir
isso é meu direito


Serei livre


Fiz meus pedidos
trabalhos e esforços


Soltem -me
deixe eu sair
ir ao nada



Achem o que quiserem
soltem -me
Deixem - me


Ir
Sair
daqui



MonoTeLha

Sequela contemporânea



Cada um
esquecendo quem é
perdendo a identidade
misturado a usos
rótulos e bens de consumo

A vida se tornando
uma droga qualquer
do governo
que te dá overdose
e lhe deixa na lixeira


Sendo agora
apenas como os outros
repetindo suas frases
teses e ideias
sem pensar


Não ousa nem tem como
saber
quem é
há ignorância
em todas as instâncias

Sem identidade
sendo massa de manobra

Você sabe
que nada resta
que nada presta
mas acha isso uma festa
dança e esquece

Sem memória
nem história

Talvez um morto
cheio de conforto

Desprezado por si mesmo
desprestigiando a ti

Rascanho de vida
um mapa inacabado
que dá em nada

Sem memória nem glória
apagados do agora
para sempre dos dados da história




MonoTeLha

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

S .S .S




Sofrendo sem sentido
respirando um ar pesado
impuro

Idiotice cretina
desejando parar a dor
mas continua-se a provocar
a falta de ar

Fumando os tragos
de poluição
por simples
opção
requerida
aceita

Não adianta mudar
ir para outro lugar
é tudo igual
as mesmas coisas
sem sentido

Sofrendo sem sentido

Os olhos estão a arder
na nova Tv
que é o pc
uma tele-tela
do livro 1984
que sabe de tudo
o que você diz
onde anda
o que faz
e com quem fala


Crinaças tocam a ferida
que são agora instrumentos
e passam neles
um veneno

O choro de desgosto
do sabor do almoço
sem tempo
sofrendo sem sentido

Persistindo no erro
saltando sem para-quedas
caindo de um abismo
com letreiros
sem entender o que tá escrito
numa queda rápida
e trágica

Sofrendo sem sentido

Um perigo

Bob pede um pedaço
mas não há trago

uma miragem
uma ilusão

Sofrendo sem sentindo
mas tudo
é provocado
parece até bem querido
o perigo

Mamãe disse
nascer e viver
reproduzir e morrer
não ligue para isso
assista a tv
trabalhe
receba salário
não ligue para a dor
sofra sua solidão

Papai disse
seja forte
caminhe com piso forte
não ligue para a morte
beba mais
vá ao norte

Sofrendo sem sentido
mas tudo isso
que eu te digo
é apenas o ridículo
literatura humana
escrita para todos
e para ninguém

Beijando a solidão
perdendo todos os irmãos
as namoradas foram embora
ficar pra lá
o emprego furou o dedo
o patrão matou o sonho
mas tudo é tipo defendido

Eu aceito por continuar vivo
querer me embriagar
com a realidade

Sofrendo sem sentindo
mas tudo
é provocado
parece até bem querido
o perigo




MonoTeLha