domingo, 3 de abril de 2016

Versos de S.O.S




No meio da cidade periférica esquecida
a madrugada mental solitária silenciosa
apavora o sol bruto rasgando concreto
numa sede em água suja banha o calor
caído canto e o resto piano 
toca uma música suave em pingos puros
para chuva delicada no pensamento
teclas da voz em coro doloroso
pois há um choro em meio ao fogo
estrofe sufoco
pedindo socorro


Protege o corpo como pode do soco forte
lá fora o pesadelo fere para entrar ao sonho
viver no atentado institucional custa pernas
dentes que fincam a comida imaginada limpa
barriga e sexo feridos de agonia
a busca do corpo para não ficar louco
tudo escrito nos sons do ar aos vãos
beco do sentir 


Anatomia das letras escritas com cortes
o vermelho que sai literatura para a parede fria
apagando um cérebro coletivo o genético brilho
a dor de todo ser vivo vendido


Arrastam nas tristezas antipáticas
bactérias e vírus disputando o ser em ralos remédios
uma imaginação de si por ti no carinho
pisando nas minas terrestres do ódio e lucro
todas essas ruas perigosas do lá fora
explodem aqui dentro em coração partido o resto de ser
sobrevivência escondida no esquecimento global
a partitura da rima aérea apagada
show de fumaça
avião na vala
cidade nefasta


Canção perdida na poesia da esquina
um estudante da sala sem luz musical
adulto analfabeto universitário
assiste a televisão cemitério
atores da novela econômica dizem para comprar
numa troca de sangue por comida a janta que se mexia
a escrevidão de todos os dias do lodo
uma galinha com cabeça de boi chorando
velocidade lacrimal humana
dor em todos os homens na fila
mulheres espancadas por maridos inimigos fabris 
uma indústria de carros para atropelamento e alcoolismo
crianças desaparecidas dentro do matadouro suíno 
uma imundice urbana paternal  e robótica
molhada por todas as nossas lágrimas vastas
a esperança escreve um verso de s.o.s
salve-me 
amor humano






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