País que nasce na morte dos índios
crescido em escravidão dos negros
expandindo através do desmatamento
todas as matas virgens estupradas
Vai indo catequizando nativos
tortura para cada árvore
corta e coloca a palavra pecado
religião da tortura de braços abertos
A colonia se pôe como vírus
comendo o corpo adoentado
fatia com lâmina suja
capitanias hereditárias do crime
O império faz seu trono
a vida começa a ser escombro
caquéticos membros alucinados
promovem o lodo ao povo
Monarquia marionete inglesa
dependência e morte
dívidas dividem roubos
A república surge privada
sugada pelo voraz latrocínio
regado a estupro e dano histórico
um jantar aos famélicos
uma louça cheia de fezes prato principal
mansões aos ricos
favelas para todos os pobres
Militares marchando em rostos
todos estudantis e artistas
memoráveis esmagados num 1964
eternizado em pesadelo
Hospitais da era medieval
regulam doenças ilegais
aos enfermos contentes
Escolas de esmolas
sem reclamação
carnaval de cadáveres
a televisão é chefe
o capitalismo nada breve
Latifúndios do desespero
reformas agrárias acontecem
pessoas ganhando sete palmos
terra bruta abaixo do chão
A miséria continental aos pobres
em riqueza aos larápios
num banho de sangue lucrativo
Lacaios do poder
amansando o povo
com uma alienação cemiterial
Taças de brindes a cada fossa
o povo arqueado de costas tortas
vão lambendo os sapatos dos patrões
vão lambendo os sapatos dos patrões
Isso aqui é o Brasil
terra de mendigo e magnata
hospício a céu aberto
cheio de paisagens belas em trevas