Ei
não consigo levantar
parece que a realidade
acabou
Restos de corpos espalhados
inclusive
na minha cabeça
tortura na mente
imagens
imaginação
lembranças
que não apagam
como gritos de dor
que não acabam
Ei
não consigo respirar
o ar parece chumbo
assim como as balas
que perfuram
Acabou meu fôlego
Estou apagando
há um tanque blindado
vindo na minha direção
Olho e vejo
sinto meu medo
vir junto
arrrhhhhggg
Esteira a esmagar
minha perna
estraçalhar
Grito inútil
no meio do conflito
tento mas não resisto
Apago
acho que estou morto
mas acordo num hospital
Carcaças por todos os lados
seres em desamparo
ambiente superlotado
Sou uma delas
uma das sequelas
Pessoas restos
contas e sobras
Matemática de capitalismo
carnificina do poder
muitos mortos
sofrimentos
verbo haver
Ei
não consigo
deixar agora
a revolta não entrar
bobo eu que aceitava
tudo calado
Eis a única coisa que me ajuda
a conseguir viver
se virar
a revolta contra os governos
criadores de enterros
Ei
Sairei daqui
há um plano
uma tentativa de desobediência
Alguma publicação
sei lá
nem que seja ficar
a berrar
na cadeira de rodas
na porta de qualquer quartel
para pelo menos avisar
que a vida dos jovens
vai se estragar
Entrar ali só pra a vida
aniquilar
a minha e a sua
triste vida dura
ter de abrir
várias sepulturas