quarta-feira, 13 de junho de 2012

Parque das Agonias




Multidões de vazios do parque
me enchem com o nada
cada dia mais presente

Os muros do local estão ficando mais altos
ao mesmo passo que pontes do amor
caem no abismo existencial

Estou muito chateado
dentro do parque de desilusões
recheadas de fraquezas e violências

Estou preso nesse brinquedo
pois fui julgado culpado
meu crime foi se defender

Realidade disfarçada de amiga
me bate a face já em lágrimas

O valor pessoal
elevado ao lixo
me encontro dentro da lata

Mendigos queridos
foram recolhidos
não vão me reciclar

Sigo na viatura bate-bate
dura vida
roda gigante emperrada
fim da tentativa de liberdade

O pior que a doce prisão
algodão doce sujo de areia
é o salgado mar do suicídio

Meu sangue fica frio
patina em zero graus
coração de geladeira
pedrinhas de gelo caem
dos olhos

Só deu para
brincar um pouquinho
o trajeto do afeto afundou
tchau  barquinho







Sozinho na Prisão




Prisão domiciliar
cela coração alagado
lágrimas e frio

Sem visita
na solitária todo dia
sem sol 
só e entre paredes
cabe o vazio de si

Todos os dias estragados
assim como a comida do prato
alimento inválido para o sentir

Os anos passam
em cima de sonhos

Sobram pesadelos
e enormes feias grades
livrando a alegria de si

Deita-se no canto
geme e morre em vida



terça-feira, 12 de junho de 2012

Nova Ordem



A revolução foi proibida
idem ao amor
quem avisou foi o medo e o horror

Vamos todos se calando
a censura imunda
veta e aperta
pescoço por pescoço

Não se toque
nem olhe o outro
fique longe
saiba de toda moral
as câmeras  lhe vigiam

São permitidos gritos
mas apenas os de dor
nada de orgasmos
ou risadas

Pode-se sentar
cadeira elétrica
movida a impostos

Pode-se deitar
cova rasa
é de graça

Alegria reprimida
euforia expulsa
carinho espancado
delicadeza empurrada

Permitido o tédio
desilusão
palmatoria
solidão





quarta-feira, 6 de junho de 2012

Vida Rasgada



O passeio escolar acabou
sente-se no emprego
assista e atenda
cada segundo do compromisso

Divirta-se sendo explorado
obedeça o relógio
acaricie - o
como em um carinhoso namoro
sentindo na real
a solidão nessa espinha
de animal amansado 

Se o que quer
quebrado e caído está
entenda se for capaz
é o sonho enferrujado
mas saiba bem
foi o mar poluído
maresia de estupidez

Saudade de ser criança
só que acorda e ai
a brincadeira se encontra
acabada em si
isso é a idade do câncer
péssima previsão de seu signo
humano viajante do astro

Se tenta seguir
buscar abrigo da chuva ácida
descobre filosoficamente
a liberdade em perigo
é pela defesa legítima traga
por proteger seu corpo
afinal um pobre
deve apanhar calado
em censura se colocar
preso permanecer

É proibido gostar
pois o amor 
 separado é normal
um objeto brinquedo
corpo moderno
força bruta lhe empurra
desprezo e capitalismo
 não és objeto de valor
para o tal alguém
sentimento que não vale
nem um litro de lágrima
ou meia tonelada de carinho

O descanso se foi
acorda criança
o trabalho infantil lhe chama
colocando mais filhos no mundo
mais bocas para comer
abortamos o lazer
e toda biodiversidade
nesse pote velho de maionese

Mas há as sobras
restos de vazios
chãos cheios de vazamentos
esgotos engarrafáveis
sem esquecer o tédio supremo
o desgosto de estar vivo
na manhã o sal no café
fome no almoço

Lixo no lanche

Lágrimas no jantar ultra romântico
com a morte ofertada pelos inimigos
paga pelos companheiros
todos falsos amigos






segunda-feira, 4 de junho de 2012

Solitário Dia de Namorados








Não é pela data
mas a solidão não larga
agora só se lembra
de ausência de pessoa amada



Dia dos namorados
solidão por todos os lados
vamos apenas ficar
objeto um do outro a se usar



Dia dos desamparos
isolados em cada quarto
pedaços de ruas
corações desviados
placas amargas



Bocas caladas
gritos internos
sentimentos tristes
bichos infelizes
zoológico manicômio 



Não há mais beijos
o jeito é o leito vazio
agradeça a solidão da casa
afinal pelo menos 
não é morador de rua
mas sente o frio
abre a frieza de si
como geladeira
para se deitar só