sábado, 21 de março de 2015

Guarda Roupa





São vestidos com rasgos
guarda roupa de vazios
a endumentária carne machucada
estou humano vestido com planeta
terno e gravata nuclear
há o casaco de lágrimas coletivas
uma calça preta poluição sonora
são ruas nossos desesperos de cetim
meias desenho desgraça
tinta de sangue e pau brasil
vestuário terror amassado
tecido da extinção

Nosso armário do sentimento rejeitado
a velha blusa solidão
combinação calcinha doença venérea
cueca patológica machista
tudo adquirido na liquidação da esperança
os trapos moda dos anos passados
são velhices morais em leis
é camisa pesadelo
algodão cru da fome e medo
 cinto miséria
broche horror

Casaco do suicídio global
agonia aos fios frios do calor desumano
roupa queimando índio
uma pena de pássaro esmagado
bicho pele arrancada
sapato problema crônico
chapéu doença mental
um cachecol da tristeza grossa

Uma lingerie para a noite da guerra
crianças pisadas pano de chão
idosos costura em parede
balas traçante corte de modelagem
moda sofrimento

As roupas de amor não cabem mais
camisa de força opressora
pijama despesperado modelito
decadência engomada
bermuda cor desisto do sonho
blazer sem socorro
chinelo pobreza

Há coturnos marchando eternamente no rosto
medalhas destruindo coração
sobretudo o nada

Não pode ficar nú
o uniforme obrigatório magoa
é o trabalho
destruir o mundo
fardas



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