domingo, 3 de março de 2013

Praia





Vou escorregando entre dias
me jogo ali pelas horas
num buraco salgado
uma praia suja
poluição noturna menor
ali ficando só

Areias do pensamento nos sapatos
coceira poética em minhas mãos
pegam canetas de maresias
escrevem esgotos da impureza

Estrofes feias 
frases lunáticas crescentes 
um ar pesado paira em mim
não escolhi viver assim 
o lugar mundo me comeu
cabeça mordida
corpo dolorido

Eu cansado mar vasto
ao longo o lodo químico
do lado o desamparo
meu ser amargo

Redes de relacionamento efêmero
objetos descartáveis carnes de açougue
ausências dos alimentos saudáveis
numa mochila apenas o álcool azedo velho
junto de livros que rasgam pensamentos
acompanhado o celular de silêncio

Há notícias nas mensagens
 uma internet vigiando onda da praia
minhas fotos de rosto feio em careta
transmitindo invasão de privacidade litorânea 
criando focos de controle marítimo cerebral
altamente impróprio se molhar

Um vento bizarro espalha os restos de nada
praia deserta entupida de vazios 
desencantamento e música
um concerto acolhe peixe morto
rapaz ferido bicho lixo
 mono telha no frio

Me arrasto pelo vento
me pego lendo raciocínios
sentimento e desprestigio 
 meu passado
interpretação de texto
o futuro seria assim
ao fundo a cidade cinza
na frente o mar sujo
 eu ali sentado no nada

Chove algo não só água
ácida amargura me molha
completa o lodo local
mar ao naufrago 
humano descabido

O papel social molha na chuva ácida
mistura com a lágrima triste cinza
vômitos bêbados completam
apagando com lixo e areia
o eu mendigo do futuro
mundo em luto
afunda ali




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