terça-feira, 6 de março de 2012

Lixo Poético





Olho os restos de civilização
todo o apodrecido material
jogado nessa terra

Plásticos de sentimentos
ferros de abandonos
brinquedos de infâncias destruídas

Seu nome é lixo
Coloco a mão e o viro

Não o reciclo

Apenas  sinto em tato

Vejo as embalagens enojado
Sinto seu odor inconfundível
é o cheiro do jantar negado aos pobres
tem a textura de cadáver
do boi e de galinha em tortura

O depósito de lixo está no ar
 boia também na água

Dizem que ele voa 
além das camadas da atmosfera
e que irá cair na cabeça dos cientistas  

O lixo das relações humanas
mentiras e falsidades
medidamente desnecessárias
entre os parâmetros do cotidiano

Produzindo sem parar
o sumo de chorume 
em desunião com o prazer

 Preciso me certificar
que eu também o produzi
por estar vivo
nesses dois imaturos séculos

Que minha genética
memória atávica segue
poluindo desde quando se produz
ganância e egoísmo

O lixo invade o coração
todo o cérebro do intelectual 
e o corpo do fofo bebê 

Os adolescentes o bebem
os idosos dormem em cima
e forma a tumba aos mortos

Leio a sua suja poesia
suas letras esmagadas
suas regras de língua ferida
é tudo isso 
toda a dor e sofrimento
que escreve esse poema
que também é um lixo




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