Olho os restos de civilização
todo o apodrecido material
jogado nessa terra
Plásticos de sentimentos
ferros de abandonos
brinquedos de infâncias destruídas
Seu nome é lixo
Coloco a mão e o viro
Não o reciclo
Apenas sinto em tato
Vejo as embalagens enojado
Sinto seu odor inconfundível
é o cheiro do jantar negado aos pobres
tem a textura de cadáver
do boi e de galinha em tortura
O depósito de lixo está no ar
boia também na água
Dizem que ele voa
além das camadas da atmosfera
e que irá cair na cabeça dos cientistas
O lixo das relações humanas
mentiras e falsidades
medidamente desnecessárias
entre os parâmetros do cotidiano
Produzindo sem parar
o sumo de chorume
em desunião com o prazer
Preciso me certificar
que eu também o produzi
por estar vivo
nesses dois imaturos séculos
Que minha genética
memória atávica segue
poluindo desde quando se produz
ganância e egoísmo
Que minha genética
memória atávica segue
poluindo desde quando se produz
ganância e egoísmo
O lixo invade o coração
Leio a sua suja poesia
suas letras esmagadas
suas regras de língua ferida
é tudo isso
toda a dor e sofrimento
que escreve esse poema
que também é um lixo
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