O Punk acordava de sua ressaca e ouvia que haviam policiais esmurrando a porta da ocupação, ao chegar próximo da entrada, escuta os gritos dos fardados: ´´ Saiam ! Há uma reintegração de posse da empresa de ônibus para ser cumprida.Saiam !``, ele voltava revoltado a avisava o que ocorria, todos começaram a recolher seus cartazes, panfletos, livros, zines etc . Como a porta não foi aberta , a polícia invadia a casa e colocava truculentamente todos para fora .
Naquele cinzento dia, armava uma chuva que cairia logo.
As mães, crianças, idosos, trabalhadores choravam, os Punks se enfureciam, mas nada podiam fazer naquele momento, suas mentes só imaginavam um novo lugar para o próximo Squat, onde poderia ser ocupado novamente .
Alguns Punks fizeram uma intera para comprar uma bebida, outros foram levar materiais para lugares , pois a chuva iria cair muito em breve . Aquele Punk ainda estava muito atormentado pelas vozes da polícia na ocupação, dai quis dar uma volta sozinho pelas ruas do centro, mas é parado pela polícia, sendo revistado e nada encontrado, é mandado ir embora dali , mas o outro policial o chama e começa a chateá-lo, dizendo sua calça ser de ´´viadinho´,´ele não aguenta e responde : ´´ Não é igual a sua farda podre``, após ser dito isso , ele ganha uma coronhada na cabeça, que lhe abre um rombo, caindo no chão . A polícia vai embora, ele se levanta e coloca um boné na cabeça e diz para si:´´Foda-se , eu resisto``.
Vai em direção a casa de uma amiga que lhe recebe carinhosamente , ele conta o que havia ocorrido naquela manhã que precisava de beber água. Após contar detalhes da ocupação que acabava, começava uma enorme chuva. Bebe uma sopa e ambos se colocam numa tarefa que tinham se compromissado a terminar um trabalho literário .
Sua amiga estranhava sua tontura e perguntava o que se passava : ``Você esta bem, ?``, ele responde :´´Não é nada , apenas uma dorzinha de cabeça.``, o Punk não havia contado sobre o machucado na cabeça, pois não queria preocupar ainda mais sua amiga . Ele subitamente a convida para terminar um grafite na rua , ela disse que a chuva iria atrapalhar, mas ele avisou que em dias de chuva não tinha muito perigo e que o grafite era embaixo de uma marquise.
Como ela tinha afinidades com as ideias, topou . Ao chegar ela iria terminar a frase que não havia acabado que dizia :
´´O SISTEMA ESTUPRA NOSSOS CÉREBROS.RESISTA ! NÃO SEJA +UM(A)ALIENADO(A) !``
Enquanto ela escrevia no grafite, observava a pintura que era cheia de padres, policiais, governantes, pastores,burgueses etc, colocando as pessoas do povo como marionetes, ela fazia grandes observações da pintura com a realidade . Ao mesmo tempo que ela estava nesse ofício, o Punk abria uma casa abandonada ao lado e já trocava os segredos da fechadura, fazendo uma nova chave , ela o olhou e disse que aquilo era tipo mágica , ele brincando com um ar de apresentador de circo dizendo :´´Eis ali uma nova ocupação e eis ali uma nova expressão libertária na parede´´, riram e se abraçaram num daqueles abraços mais gostosos do mundo, eles ficaram encantados pelos suas pequenas iniciativas que podiam ajudar e mudar muito a realidade.
Ao caminharem ele passa a chave para ela e diz que irá fazer uma coisa e que se ela podia levar os Punks e as outras pessoas para a casa , pois ele tinha que ir no hospital , ela estranhou e ele mostrou seu buraco na cabeça , ela ficou muito espantada e disse que iria junto, mas ele queria ir sozinho e ela devia ir avisar os outros . Depois de ficar preocupada e com algumas lágrimas cairem , ela aceitou e foi ao encontro dos Punks, ele seguia para o hospital para levar pontos . Possuia uma passagem de ônibus, mas quis ir a pé mesmo .
No caminho passou num mercado e pegou uma sacola plástica . Entrou em um banheiro e defecou dentro dela, levando o saco para a rua , escolheu um carro de luxo na rua e não pensou duas vezes em jogar merda no veículo do burguês , rindo ele saiu de seu protesto a caminho do hospital . Chegando lá viu a superlotação já fora do hospital e imaginou que aquelas pessoas eram só uma parte das muitas que ali estavam buscando ajuda para não morrer , começou uma distribuição de panfletos para os presentes, que
dizia informações para as pessoas se revoltarem com a situação que o Estado faziam com eles , além de dicas de medicina preventiva, uma moça achou surreal e agradeçeu muito .
Ao entrar na fila para ser atendido, viu uma pessoa saindo de ambulância e ter de ir a pé para a emergência, mesmo tendo o pé machucado e disse com certo pesar ao moço : ´´Bem vindo ao Açougue Aguiar.``, triste e revoltado esperou horas e mais horas para ser atendido. Depois de muito tempo depois , ao sair ele liga para sua amiga, pedindo para ela encontra-lo no bar que eles iam de costume no centro .
Quando chegou lá estavam seus amigos para recebê-lo em certo tom de festa : ´´E ai Punk! viva a anarquia ! Estamos na nova ocupa ! ´´, Vê sua amiga e dá outro abraço gostoso, bebem álcool, conversam sobre seus dados e informações . Ele chama sua amiga e diz querer ir com ela dar uma volta e que não queria dormir nem na ocupação , nem na casa dela , mas sim num terraço de um prédio para ver as estrelas, pois o céu estava limpo, já sem sinal de chuva . Após fazerem sua cama , beberem vinho, lerem poesia, antes de dormir com um beijo na testa ele diz para ela : ´´ Hoje é só mais um dia `` .
Apenas mais um dia ( dois )
Ele acordava ao som de pássaros em um mini bosque, onde ficava instalada sua mansão, um belo lugar regado a tecnologias de ponta , tanto em coisas da casa, quanto em aparatos de segurança, seu café da manhã era preparado com miudezas carrísimas, pelos vários serviçais .
Observava as cotações de suas ações na bolsa de valores na TV de sua suíte, enquanto defecava em uma latrina de ouro. Após preparos matinais punha-se ao dejejum, alimentando-se apenas de um terço do que era preparado, o que restava era obrigatóriamentejogado no lixo.
Vestia sua endumentária milionária e ordenava preparar seu veículo blindado para esse dia , seu motorista já sabendo qual percurso ia ser feito , se dirigiu para o clube de tenistas e em seguida ao jóquei clube, pois seu patrão possuia inúmeros cavalos de corrida .
Enquanto o motorista esperava , aproveitava para conversar com um faxineiro do local, levavam uma conversa ´´Como um clube desse tamanho é de uso quase que exclusivamente para ricaços, numa megalópole sem lugares para a população desfrutar de um pouco de natureza?!!``, ele disse que não entendia exatamente o motivo , mas devia ser pela maioria do povo permitir essa injustiça .
Após um certo tempo , seu patrão arrogantemente lhe mandou levá-lo ao escritório.Dentro do veículo queixava-se que queriam roubar 2 reais seu no restaurante do clube, por uma soda ter sido acrescentada em sua conta de 1.658 reais . Erro por erro , exigia que a pessoa deveria ser demitida, ele simplismente seguia no seu carro com ar de que era a pessoa mais justa do mundo, porém ele realmente havia pedido a soda , porém ele tinha esquecido a lata verde em um arbusto ao lado da mesa, que logo se camuflava.
Funcionária demitida, tudo seguindo seu fluxo, ele chegava no arranha-céu da avenida principal, ao chegar no seu andar lembrou que um banqueiro iria vê-lo naquela hora , chamou sua secretária, lhe avisando que era para dar ordens de retirar seu helicóptero do hangar , pois seria utilizado por outra aeronave. Ao chegar o banqueiro, após formalidades na frente dos outros , foram a sua sala papear sobre negócios, em meio a isso contou sobre o ocorrido no restaurante do clube, disse da soda ter sido acrescentada em sua pequena conta e que aquilo fez ele gritar com uma funcionária, o banqueiro ria do relato e disse: ´´Com essa gentinha, tem de ser mais suave , falar educadamente e nas suas costas , chamar seus superiores e ai sim, mandar sumir com esses esfarrapados, não se pode demostrar ao povo como você os detesta. Hum, parece que que está perdendo o jeito , tem que ir aos lugares dos serviçais e fazer umas piadinhas, isso animará o seu dia.``
Após negócios milionários sendo fechados, o banqueiro parte para o provável engarrafamento de helicópteros.
Ao ouvir o conselho do banqueiro, desce para ver os trabalhadores. Entra em uma obra e vê que uma pessoa havia se machucado no pé, e diz com garbo e ironia : ´´Isso é frescura, uma coisinha à toa.`` Ri e desiste de seu passeio pelo prédio. Sobe para sua cobertura e avisa sua secretária que seu dia de trabalho havia acabado.
Diz ao piloto pelo rádio que não iria utilizar seus serviços, pois iria embora de carro. Sua partida é feita em outro veículo blindado, pois queria variar . Ao sair do prédio logo se encontra com um engarrafamento e diz não se importar, pega uma garrafa de seu melhor uísque e avisa para o motorista que deseja ouvir uma música clássica, pois uma ambulânciaque fazia muito alarde, disse que devia ser ´´Um desses pobres asquerosos``, indo para um entulho hospitalar qualquer . Ao passar a ambulância o som diminuia e ele quis abrir um pouco a sua janela, nesse mesmo momento , lhe arremeçam fezes no carro e um pouco sobre ele, isso lhe fez grunir de raiva , ficando vermelho e berrando para o motorista ir num posto para se limpar e lavar o carro . Após muitas limpezas e banhos em um hotel local , ele segue para casa . Chega em sua mansão sendo recebido por sua filha com birras de menina mimada, ele olha ela e se enxerga ali naquele pequeno corpo, sorrri e segue para dentro . Depois das questões familiares, ele se retira para seus aposentos com sua esposa e na cama ela pergunta como foi seu dia, ele fala com tom sério : ´´Trabalhei muito hoje, mas é só mais um dia `` .
Apenas mais um dia ( Três )
Acordando tonto do efeito do remédio para dormir, ele levanta e toma um copo de café com três exageradas colheres de áçucar, fuma uns dez cigarros falsificados, o indivíduo se prepara para a realidade. Vê a garrafa de pinga e não resiste em tomar uma dose .
Desce para a rua na fumaça do trânsito, esperando o ônibus lotado, ouvindo a poluição sonora insurdecedora, entra respirando o ar viciado de janelas fechadas e ar contaminado .
Chega atrasado, cansado e suado, o patrão lhe diz que será descontado e é ameaçado de demissão de trabalho que nem carteira assinada, nem direitos possuia.
Após esporro do patrão , segue ao trabalho insalubre sem proteção, na hora do almoço nos seus 15 minutos para engolir sua feijoada azedada, suspira e fuma cigarros, já exausto retorna em mau estar para a continuidade de sua enorme jornada.
Triste e cansado , olha para o relógio, que parece não andar , após muito laborar, já sem coordenação, ocorre uma fatalidadem, um enorme pesocai no seu pé . Depois de muito gritar e ser humilhado pelo superior, é chamado o socorro público, que vem em muita demora , uma ambulância que balançava muito, o fazendo sentir mais dor ainda.
Mais a frente no caminho que ia sendo percorrido pelos engarrafamentos da metrópole, ele pensava nas causas desses terríveis acontecimentos .
Ao chegar ao hospital, ia sendo retirado da maca, tendo de ir a pé para dentro da emêrgencia, por falta de equipamentos
Passando pela multidão de enfermos, um punk lhe diz com pesar e tom corrosivo : ´Bem vindo ao Açougue Aguiar `, na sala lotada para homens , sente o cheiro de podre , urina, sangue e todos os etc do lugar.
Os gritos de dor das pessoas e o barulho de aparelhos fazim uma composição musical dentro de sua cabeça sedada, uma música sinistra que ele chamais imaginou ouvir . Após horas ele é atendido pela hiper atarefada equipe médica e é enviado para a fila da sala de raio X.
Dentre todas as burocrasias, é descoberto ossos quebrados , após medicado e o seu membro enfaixado, ele recebe alta do que se poderia chamar de hospital , bem certo era o punk , pensou ele . Se dirige esfomeado e tonto, macando para o ponto de ônibus, onde lhe esbarram, causando muita dor .
Nessa longa viagem de volta para a periferia, tem de viajar em condições de hiperlotação e ônibus numa ida acelerada e perigosa . Descendo no ponto final , tem de caminhar bastante , mesmo machucado até as proximidades de sua favela, uma comunidade em guerra com outra facção, com a milícia , além da polícia oficial .
Chegando lá, meio que pré determinado acontecia um intenso tiroteio, depois de horas de espera para a desocupação policial, sai bebado subindo vagarosamente os becos, passando por rios de sangue, nota uma criança baleada morta com pessoas chorando e gritando de ódio, sente-se profundamente horrorizado pela realidade .
Abre a porta do barraco, devora os restos de comida, bebe mais aguardente, fuma cigarros, se deita, suspira e diz para si : ``Esse é só mais um dia ´´.