terça-feira, 24 de maio de 2016

Socorro





Madrugada em trapo pesadelo
a fria favela das nossas vidas 
há desespero e tiroteio de angústia
uma febre para esquentar o coração
estou ficando louco de cidade tumefacta 
nadando no lodo horroroso
tortura na vala de lágrima
um beco sem saída para o futuro
 correndo no fogo cruzado
pedaços de coração e churrasco
me internem em baixo da terra 
hospício da mamãe natureza morta
a camisa de força unissex vestida
roupa para que o chão engula

A dor como calor desumano
meus becos do sentir e gemido frio
esse barraco corpo pouco e desabando
cansado de esperar para que apanhe
resiste doente em precipício social
a dor girando louca pela comunidade
inocência caçada como culpa pútrida
vomita bílis e vida horrível triste

A solidão uiva uma avenida brasil
carros passando em cadáveres
carne dada aos vermes

Vila Depressão de Olaria
Mau estar da Penha
Subúrbios da zona morte
baixada fluminense em queda
estamos em um inferno febril
a dor e o sofrimento se beijam
esquina do esquecimento número zero
bairro da desatenção macabra 
alucinações da realidade em vomito
uma repressão chamada cidade

Deito no canto do gemido 
a solidão sendo cobertor comunitário
dormo os nossos infernos gastos
pesadelos acordados ninam
é uma triste resistência popular
onírica realidade da desgraça
dorme profundo subúrbio dos dias
carnes periféricas do açougue mental
apodrece na sequência do sonho
desperta daqui a pouco para o horrível
acorda a comunidade em extinção
balas da munição monetária 
somos os corpos hospitalares
carcaças na escola esmola
pedaços do resto de esperança
inocentes tratados como lixo
banquete para o luxo e luto

Socorro para esse mundo louco
horror triste
quase prefiro estar morto




Amputação






Dor aguda agulha
caminha na sala de desespero
sem sair apenas ficar
círculo de ar viciado
gritos sobre perigo
vírus vestígio vestido em aflito
ausente encontro ao caminho
apenas em pé
dá muita dó de nada fazer
sem sentar ou dormir
embala sofrimento saco vazio
o homem e a mulher

Cabeça caída psique ruína
tristeza para ver tv
notícia em cima de queda
vida idosa velha violência
amputando cérebros sonhos
   
Pesadelo acordado em frutas podres
legume veneno velha marmita
idosa vida cara no lixo
agonia noite e dia
abandono hospício hospitalar
 ausência e aflição com analgésico sem efeito
inflamaçâo da infecta carne abusada
manobra dos governantes
ceifar cabeças com canetas

Apenas barulho
Lá lá lá do blá blá blá
música enlatada para vida sardinha
noite fria passa quente inferno
fala fatal do cantor sufoco
guitarra agonia solo sem água
bateria puro desritmado cardíaco  
um coro ardendo com urina
a pele arde tarde enferma

Passa atraso largo vasto
solitária multidão  
atrás  bizarro amargo
presente aniversário
sem futuro 
        


 


Chuva





Pingo ai
dor sem apraz
funda lágrima esquina
que deita
corpo molhado
chora ferrugem
 agora ferro velho

Não funciona corpo
prioridade vencida
data água que passa
olhos solidão molhada
azeda fila de espera
janela hospitalar caseira
mundo pessoal doente
sem doce analgésico 
chuva no coração  

Cabisbaixo apagado
catarro ao vomito
sofre frio
assim caído
desperdício idoso 
o hospital está morto  
fim do povo



Refeitório Social







Agonia alimentar com fome e corante
 destruição conservante tumoral 
devastando o estômago seletivo plácido
supermercado social distribui dor
endereço do restaurante das fezes infelizes
produzindo o prato do dia
uma madrugada intoxicada
vomita a sua saúde
triste anemia menina

Crianças negras despedaçadas
vendidas como carne barata
é um banquete da crueldade racista
chamada culinária da justiça

Massa salgada violência tida educativa
regendo um inferno humano qualquer
campo de concentração neonazista alimentar
fazem sofridos seres vivos a sua comida
sendo restos e vômitos no lixo

Abuso de poder no cardápio
fatiando direitos com covas
mesas do ódio central
pratos frios com relíquia histórica
gasolina queimando a panela social
receitas do chefe sofrimento

O poder sorrie sua doença interna estomacal
falsidade nos dentes afiados lucrativos
mastigam liberdades e justiças
réus inocentes queimados em churrasco
máquina de moer sonhos
sirenes temperando os pobres
negros açoitados
mulheres e índios
jogados no abismo




 

Farmácia





Ano novo avizinha a super bactéria
dançando pobreza nos coletivos
passos dados em estragos
um balé trágico em ar condicionado
epidemia em passeio pago
frascos disseminados
hecatombe e desamparo

Remédios de prateleira em visíveis saltos
dólares e euros sorriem um vírus emotivo
pagando para viver humanos bailes
as máquinas de laboratório giram
moribundos lucros

Mascarado lucrativo dançarino
a ópera hospitalar terminal
uma cidade em puro genocídio
teatro municipal abismo
perigo ao ser vivo

Mutação e inércia
cortinas pegando câncer
fábrica dos efeitos colaterais
a febre da platéia
a doença espetáculo
pílulas sabor extinção



Cacos de Canto






Canto sujo
fresta fria sonora
cidade eterna cimentação do músculo cardíaco
 dores públicas músicas
 letras na parede carnal
 analfabetos sociais regentes
 viaduto espetáculo ao nada
a casa que se apaga
penitenciária planejamento de moradia
governos constrôem jaulas alegres
gastos para rasgar barrigas sonoras
carros que passam
sinfonia do tapa policial na cara
água de vala em regência
bueiro instrumental

Rádio Chopin noturno de pilha nuclear
dejeto filarmônico inimigo
abraça flauta saco corpo em lixo
música do surdo
tanto faz mais vida lá atrás
mundo perdido dentro do umbigo
 remédio e sinfônico vírus
ser humano destruído
dança no precipício
o concerto fora de si
largo som vasto da miséria
língua coro podre e velha
lambe para comer
restos de si
 partitura fúnebre

Choro pela fissura violino
piano lágrima velha que leva
vida em ilha deserta
sozinho e nada alegra
uma cantiga velha

Gotas do oceano tristeza por todos os lados
banhando sua solidão
canto cidade
gemido social
assovio do ar poluído a sinfonia fria
ouvido computador da fossa auditiva
lucro capital gravando gemidos
um musical futurista
o perigo abissal de ignorância viva
a humanidade falida
vidas extintas
o grito é um silêncio
final vazio




Lama Financeira





Rio doce de sangue sujo
um adeus cor marrom
metal pesado do vasto desamparo
farto e amargo dinheiro ao mar
sujo lodo de dor
a lama cobre a esperança
sem oxigênio
o desastre veneno

Peixes choram fora d´água
rio de lágrimas contaminadas
através das barragens feitas
um mundo muro
 futuro em luto

Impostores fabricando corações de ferro
a natureza morta indo ser vala
linda água que estraga
a vida ali passava
a morte agora traga
humano bicho
o líquido que virou lixo

O pássaro que a água ali bebia
é uma hemorragia da vida perdida
lucros da tecnologia que tudo esvazia
um funeral planetário onde enterram
caixão marrom
 peixes e sonhos



Fraqueza Letal




Arrasto paredes das ruas
 rosto em cansaço no cimento
concreto levo a face arranhando
um chão de favela ensanguentada
existindo no perigo
tanto faz agora
sozinho sumido sorriso
seguir sentido beco sem saída 
tiroteio é endereço
assim me perco
a dança chamada cidade
prisão ala central
a casa custódia tristeza

Vivo sufoco
grito do socorro povo
virando uma música fúnebre
desespero precipício 
dormindo na beira da morte
engolindo remédio velho
 sono caindo
dentro do pesadelo
afundar sem demora
farto do amargo

Proibido se proteger sentir medo
o pleno desespero
plácido solitário na multidão
agonia todo o dia
para noites de  febre alada em gaiola
sofrimento coletivo e frio
lâmina de fatiar esperança
vida sabor ferro velho

Lotação máxima de vazios
superpopulação crescente
doenças trogloditas mentais
espancando esperanças
corre sangue suicídio
saindo por todos os lados
poros e furos
cortes de si